Heysel e Arena Grêmio - Paralelos... Mas Distintos ao Mesmo Tempo

Boa noite, pessoal...

 

Depois do que ocorreu ontem, dentro da Arena Grêmio, no jogo Grêmio x LDU (Equador), onde parte da grade de proteção cedeu, ferindo 7 pessoas, sem mais gravidade, me veio à cabeça um episódio muito mais grave ocorrido em 1985, na cidade de Heysel (Bélgica): a morte de 39 torcedores durante a final da Copa dos Campeões da Europa entre Juventus (Itália) e Liverpool (Inglaterra), em 29 de maio daquele ano.

 

Claro que os escopos são diferentes, neste caso, até mesmo porque no atual, tratava-se de uma modalidade de comemoração tradicional da equipe gaúcha, cuja manifestação foi marca registrada do antigo Estádio Olímpico, sede anterior do Grêmio.

 

A avalanche consiste em basicamente uma corrida em massa à parte da geral (setor mais popular do estádio) mais próxima ao gramado, durante a comemoração de um gol. Porém, diferentemente do Olímpico, que tinha uma inclinação das arquibancadas e distância menor do gramado, a Arena Grêmio não oferece este tipo de estrutura e o resultado pode ser visto pelo link abaixo:

http://globotv.globo.com/sportv/taca-libertadores/v/avalanche-gremista-da-errado-e-fere-torcedores-em-jogo-do-gremio/2377367/

 

Já em Heysel, duas diferenças já podem ser pontuadas em relação ao incidente ocorrido na nova casa gremista: havia torcidas rivais degladiando-se, já fomentadas por um ranço de raiva/rancor, advindo da final do ano anterior (1984), entre Roma e Liverpool, na capital italiana, onde os famosos "hooligans", já enfrentaram a torcida italiana, causando muitos transtornos.

 

 

A imagem acima mostra o resultado trágico do confronto. Mesmo considerando que o entorno do estádio e a parte interna contava com pelo menos 1.500 policiais, já como ação preventiva, confrontos na área externa já ocorriam e o estopim aconteceu dentro do campo de jogo.

 

Em determinados locais do estádio, torcedores de ambas as equipes estavam sendo separados apenas por uma gradezinha, com alguns policiais no meio. E foi em cima desta oportunidade que os hooligans do Liverpool se aproveitaram para iniciar uma monstruosidade poucas vezes vista.
 

Os torcedores da Juventus foram pressionados incessantemente. Com o muro se rompendo, muitos deles foram derrubados e posteriormente esmagados. Os ingleses ainda usaram barras de ferro para assassinarem seus semelhantes: o efetivo policial pouco pôde fazer, e o mundo assistiu ao vivo a um massacre digno de uma guerra, massacre este, que só não foi pior por que houve a possibilidade de os torcedores conseguirem derrubar o alambrado, assim, fugindo para dentro do campo.

 

 

Parando agora para pensar a respeito do paralelo traçado (mas tão distinto em característica ao mesmo tempo) e relembrando o ocorrido em Santa Maria, o ser humano deveria, antes de promover determinados tipos de espetáculos e eventos, principalmente aqueles do tipo "crônica de uma tragédia anunciada", analisar muito bem a viabilidade e o perigo real que ele representa. Da mesma maneira que um local fechado, quente, pouco propício à ventilação e à evacuação rápida de centenas de pessoas em caso de incêndio, é inadequado para uma performance pirotécnica (como o caso da Boate Kiss), um estádio projetado para NÃO receber uma avalanche, NÃO deve aceitá-la e um evento já tomado quase que totalmente pelo estigma do ranço, da rivalidade e da participação de um agrupamento tipicamente violento (no caso os "hooligans"), não deveria ter ocorrido da forma como foi: pessimamente estruturado.

 

 

Como determinação pós-incidente, os clubes ingleses ficaram proibidos de disputarem competições europeias por um período de cinco anos. As reações do povo inglês foram todas no sentido da reprovação e incredulidade pelos atos violentos dos adeptos do Liverpool, o que levou a própria rainha a condenar publicamente o comportamento dos hooligans e a apoiar a suspensão das equipes inglesas.

 

 

Resta refletir... será que vamos mudar nossa atitude, de corretiva a preventiva? Se a linha do tempo não foi suficiente para nós, passados quase 28 anos, me parece que esta mudança de paradigma será difícil de cumprir.

 

Até a próxima postagem, pessoal!