Sugestão de Leitura - "A Filha do Reverendo" (George Orwell)

Quando lembramos de George Orwell como autor de livros, quase que automaticamente vem à mente duas obras: "1984" e "Revolução dos Bichos", com suas temáticas ligadas à política, totalitarismo, hierarquia, controle e dominância dos atos, ideias e pensamentos, bem como a dinâmica dos conflitos que estes acabam por fazer surgir. Na maior parte dos casos, mesmo tratando-se de obras escritas por alguém nascido no início do século XX e que teve sua vida abreviada por um grave problema de saúde à época (tuberculose), acabam sendo temáticas bastantes atuais, dada a forma pela qual o mundo de hoje tem a sua sociedade dividida. Apesar do poderio econômico e de influência tendo uma relevância centrada no eixo Europa x EUA, outros pólos geográficos como a China, a Rússia e mais recentemente a Turquia, que reelegeu Recep Tayyip Erdogan como seu presidente. 

Mas recomendo expandir a leitura para o título "A Filha do Reverendo", que versa a sua história também em relações interpessoais, porém desta feita em um caráter apartado da esfera política e de conflitos associados. Aqui, o centro da obra diz respeito à pobreza, tanto material quanto espiritual, voltada às suas personagens da Inglaterra dos anos 1930. No caso, muito das situações descritas focam a vivência de Dorothy Hare, jovem garota povoada de incertezas, dúvidas e permeada por uma escassez de apoio em suas intenções, vontades e projetos. 


À medida que se desenrola a trama conseguimos traçar um paralelo do ocorrido dentro do contexto de vida dela ao quanto a falta de elementos ligados à composição de uma inteligência emocional sólida, tais como os relacionamentos, a empatia em relação ao seu semelhante, a gestão das emoções e o autoconhecimento. 

Percebemos o quanto a escassez de algumas necessidades prementes de sobrevivência (alimento, vestuário, moradia) aliadas à também postura inócua frente à isso por parte de quem poderia amenizar tal sofrimento, traça uma linha mestra referente ao destino que a vida desta e de outras personagens acaba tomando e faz com que o tempo de alguma maneira gire em círculos em relação à maneira com que a rotina de apresenta. 

Acabamos por conseguir verificar a multiplicidade de características que o ser humano pode apresentar, tanto de um lado ligado às virtudes, quanto pelo lado dos vícios e desvios de comportamento, isto contribuindo como uma rica lição de como conduzir nossas vulnerabilidades e incertezas. 

O livro possui cerca de 350 páginas e combinando a curiosidade sobre como a trama será concluída, à medida que ocorre e também a empatia que é possível sentir, face às situações e à dinâmica de Dorothy, a protagonista, acaba sendo uma leitura cativante, proveitosa e instrutiva, também pelo fato de saber que o mundo "orwelliano" não resume-se somente às suas duas obras mais conhecidas. 


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