Um Sinalizador e Mau Sinal da Conduta Humana... - Boa Jornada, Kevin!

Boa noite, pessoal.
 
Bom, nesta semana, um objeto que é utilizado para salvar vidas, foi protagonista de mais uma tragédia dentro de um campo de futebol: trata-se de um sinalizador marítimo, utilizado para localizar naus à deriva, por exemplo, que foi lançado por uma pessoa durante o jogo entre San José (Bolívia) x Corinthians, na cidade de Oruro, Bolívia.
 
Infelizmente, sob o pretexto de "torcer até morrer", sob o pretexto de tomar o adversário como inimigo ferrenho e sob a égide de uma proteção que um grupo dito "organizado" provê, algumas pessoas de má índole travestem-se de torcedores e sob este "escudo protetor" (involuntário ou não), cometem barbáries e depois, na antítese desta tão portentosa "coragem", saem de fininho e não assumem seus atos.
 
Antigamente, torcer nos estádios pressupunha até mesmo vestir-se como se fôssemos a um evento social de grande magnitude. Homens vestidos de terno e gravata e senhoras também garbosamente vestidas, compartilhavam espaço e os gritos de guerra eram recheados de lirismo.
 
Realizando uma pesquisa rápida neste sentido e independente de paixão clubística, cabe citar por exemplo um cântico comum da torcida do São Paulo nos anos 1940, após a inauguração do Pacaembu:
 
"São Paulo!
São Paulo!
São Paulo!

Eh São Paulo
Eh São Paulo
O Mais Querido da Terra Bandeirante

Eh São Paulo
Eh São Paulo
Com o Tricolor é bola no barbante!

Entramos em campo confiantes
Nossa defesa joga com valor
Vão para frente os avantes
Aumentar o placar do tricolor

Grita a torcida delirante
Com o Tricolor é bola no barbante."
 
Veja que interessante: um chamado "grito de guerra" onde não havia necessidade de recorrermos a palavrões, a xingamentos, a ameaças ao torcedor rival.
 
As décadas foram sucedendo-se e com o chamado advento das torcidas "organizadas" e a necessidade premente de mostrar a sua supremacia nos estádios em relação às rivais, agora convivemos com cânticos ameaçadores, como o demonstrado abaixo:
 
 
Se você "mecher"(???), vai parar no cemitério... Mas o que é mexer, muitas vezes, para grupos como estes? É simplemente circular na rua, no metrô, no ônibus, com uma camisa de um clube rival. Ou seja, você automaticamente deve censurar um direito legítimo de cidadão, para não sofrer as conseqüências da bestialidade, potencializada no caso acima, pelo poder de manipulação de uma massa.
 
Esta influência nociva dos grupos está bem em correspondência com um princípio de um sociólogo frances chamado Émile Durkheim, que apregoava o seguinte: "uma representação coletiva que além de ser válida para todos os indivíduos que fazem parte de um determinado grupo, expressa a exterioridade e a coercitividade."
 
 
Ou seja, a violência como esta representação coletiva, que por tal caráter, auxilia o indivíduo a exteriorizar seu lado bestial e demonstrar que a sua agremiação possui um poder de coercitividade maior do que qualquer outra.
 
O "de menor" inconsequente que há pouco (em depoimento na televisão) diz ter realizado tal ato "por acidente", acabou fazendo valer o poder de influência do grupo para, imediatamente após o fato, buscar refúgio e orientações dentro da torcida organizada, antes de assumir, como indivíduo, o seu erro. Será que, neste caso, houve um poder coercitivo às avessas, cerceando um pouco a consciência de uma confissão imediata? Não podemos julgar, pois os fatos serão apurados.
 
O que é importante deixar claro neste artigo é que atos inconseqüentes não são exclusividade de torcida x ou y. Atos inconseqüentes não são exclusividade de pessoas pobres, sem instrução. Não são cometidos apenas por pessoas desequilibradas, pessoas desprovidas de senso de coletividade. Não discutimos aqui se a "torcida x ou y" é a única, mas sim, a intenção foi discorrer que infelizmente, pela natureza humana e pelo livre-arbítrio direcionado tanto para o bem, como para o mal, tais atos estão longe de parar de acontecer. Vide uma postagem anterior, a qual falei a respeito da tragédia de Heysel, na Bélgica, onde dezenas de torcedores foram mortos, em uma briga entre "hooligans" ingleses e torcedores italianos.
 

Eis um depoimento a respeito do uso do sinalizador, para refletirmos:
 
“Ele não é brinquedo. Ele só tem uma finalidade: é salvar uma pessoa que ta numa embarcação à deriva, à socorro e em perigo”, afirmou Pedro Rogério Miranda, engenheiro.
 
Torna-se pouco factível ou então um tanto quanto difícil de acreditar que portar um aparelho destes num estádio seria necessário para "chamar a atenção do grupo", como alegou o rapaz na entrevista.
 
 
"São três etapas. A primeira acontece quando o disparo é feito. Depois, com o motor acionado. Ele queima durante quatro segundos. Pode atingir uma altura de até 200 metros e uma velocidade de 340 quilômetros por hora.

A terceira etapa é reação química. O sinalizador começa a incendiar. Então, surge uma luz vermelha, que pode ser vista até quarenta quilômetros de distância. Na ponta do sinalizador, tem um pequeno paraquedas, que faz diminuir a velocidade durante a descida e a luz forte fica mais tempo no céu."
 
Infelizmente, para Kevin Espada, a vítima, um momento de diversão tão esperado durou apenas 5 minutos. Um sinalizador aqui representou o mau sinal da conduta humana... Um substantivo concreto que foi acionado por um substantivo próprio (ainda indeterminado o nome), que gerou substantivos abstratos ligados à tristeza profunda, como a própria tristeza, pesar, mágoa, dor...
 

Que um mundo melhor guarde Kevin... que ele encontre algo espiritualmente muito mais evoluído nesta nova jornada.

Até a próxima postagem, pessoal!
 
 

 
 

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