Carros de Luxo... Condução de Lixo

A velocidade exerce no homem um fascínio enorme, sob diferentes aspectos. Um exemplo emblemático disso ocorre no atletismo, esporte que acompanhamos fascinados as provas nas pistas, na expectativa de presenciar quem é o homem mais rápido do mundo. Ficamos ansiosos quanto a novos recordes mundiais que possam ser quebrados a cada edição de Jogos Olímpicos, mesmo já sabendo que parecem marcas mundiais impossíveis de serem suplantadas. A propósito, determinadas provas durante muitos anos, mesmo considerando o advento da tecnologia aliada ao esporte, tiveram severas dificuldades de terem seus recordes quebrados. Um célebre exemplo disso foi a modalidade dos 200m rasos, cujo detentor da melhor marca, Pietro Mennea, faleceu ano passado. 


Sua marca de 19s72, durou 17 anos. de 1979 a 1996, sendo superada pelo atleta Michael Johnson com a marca de 19s66.

Uma das personalidades brasileiras mais lembradas mesmo até hoje, cerca de 30 anos após seu falecimento, é Ayrton Senna, que também fez da busca por quebra de recordes uma marca registrada em sua profissão de piloto de Fórmula 1. 

Os dois ambientes citados, ligados ao esporte, representam nichos em que a velocidade é almejada dentro de um cenário pautado por controles de segurança e estruturas construídas de maneira a buscar evitar o máximo possível a ocorrência de acidentes. Evidentemente, eles ocorreram, em especial nas pistas de automobilismo, de maneira a oferecerem um repertório de aprendizados, os quais resultaram na modificação de procedimentos e aparatos ao longo do tempo. 

Hoje é muito menos comum ocorrerem fatalidades nos circuitos de corrida. Porém, em décadas passadas, eles não ofereciam confiabilidade de maneira muito adequada e eficaz, especialmente no quesito segurança, como ficou latente em um exemplo durante o Grande Prêmio da Holanda de 1973, em um acidente que envolveu o piloto Roger Williamson. 


Basicamente, seu carro perdeu o controle em uma curva, colidiu-se com o guard-rail, ficando de ponta cabeça. Com o atrito ao solo, funcionou como um fósforo sendo riscado e produziu um incêndio devido à queima contínua do combustível. Roger ficou preso ao cockpit, sem possibilidade de escapar sem ajud de terceiros.

Dentre as falhas principais, naquela ocasião, ficaram latentes a falta de fiscais de pista para combater o incêndio que acometia o carro de Roger (apenas um aproximou-se de maneira rápida para tanto em um espaço curto de tempo) e também um erro da direção da prova, que interpretou a aproximação de outro piloto (David Purley) ao carro, como sendo a do piloto que o conduzia. Mas na realidade Purley abandonou sua prova e em uma atitude desesperada, constatando a ineficácia de salvarem Roger, tentou combater as chamas mediante a sua própria ação. Com isso, a prova seguia normalmente e a vinda de uma equipe de resgate tornava-se cada vez mais tardia, para o desespero de Purley, que quase nada conseguia fazer. 


Ok, mas por qual motivo este preâmbulo, no qual abordei a velocidade por aspectos aparentemente diferentes em relação ao título da postagem?

Porque eles têm, de certa maneira, uma correspondência com alguns fatos que vêm ocorrendo de maneira recorrente em nosso trânsito, envolvendo os chamados "carros de luxo" (quase sempre automóveis de marcas renomadas e de cilindradas bastantes elevadas), motoristas com conduta imprudente e outros que são atingidos por este digamos "estilo" de pilotagem e têm suas vidas severamente atingidas, bem como suas famílias, devido a acidentes que advém por conta desse contexto todo. 


Isso porque estes chamados "carros de luxo" têm, em muitos momentos, uma forma de guiar que podemos caracterizar como "condução de lixo". Com velocidade muito acima do permitido naquela via, com muitas vezes o álcool fazendo parte do roteiro, como se as ruas de uma grande cidade fossem um ambiente controlado para se fazer isso, tal como um circuito de Fórmula 1 o seria. 

Podemos dizer que temos alguns motoristas que parecem ser "movidos a álcool", guiando carros a gasolina, álcool ou híbridos. E que, impelidos por este "combustível", incorporam um caráter destemido em demasia, sem limites e critérios, mesmo sendo estes latentes e evidentes em uma sociedade.

Errado. Este é o primeiro elemento incorreto de correspondência entre os dois cenários. 

Porém, e mais triste do que isso tudo, é constatar, checando a postura dos infratores, a falta de empatia em relação ao semelhante. Nos casos mais recentes, os protagonistas dos acidentes saem praticamente ilesos do fato, mas os que são os afetados não têm a devida atenção e tampouco os primeiros-socorros, como deveria ser o esperado. Diferentemente do ato de heroísmo de Purley, que quase sacrificou sua vida, colocando a sua condição de piloto/competidor em segundo plano, em nome da empatia em relação ao próximo. 

Muito se vê então que a humanidade tem muito a evoluir, conforme o exemplo acima. Por conta disso, quando ouço a pergunta clássica formulada em ocorrências como esta ("Até Quando?"), costumo responder: "até quando o Planeta Terra existir". Pois, por mais que se tenha a possibilidade de evolução, mediante nosso livre-arbítrio e reflexão, sempre haverá em contrapartida, pessoas com conduta ligada ao mal. Resta a nós incorporarmos um pouco do espírito solidário de Purley, para cultivarmos continuamente a capacidade de colocarmo-nos no lugar do próximo. 

Até a próxima postagem, pessoal. 

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