Burrice Sob Uma Ótica... Burra... Nos Esportes

Gosto de acompanhar modalidades esportivas e, diferentemente de algumas opiniões contrárias (as quais respeito), não acho que o futebol entorpece as pessoas. Aliás, nenhuma espécie de lazer (lícita, é claro!) desde que seguida de forma moderada, em nada nos faz tornarmo-nos pessoas de maior ou menor capacidade em relação ao nosso semelhante. Em nada também nos desabona em relação à nossa conduta. 

O esporte, até mesmo para quem não o aprecia, pode reservar até momentos de arte, lirismo. Momentos visualmente impactantes e marcantes. Ocorre que em nosso país temos como preferência o futebol e não abrirmos adequadamente nossa visão e nossos olhos à sensibilidade e plasticidade de outras modalidades. Tomemos como exemplo os Jogos Olímpicos: momentos ímpares estão disponíveis a olhos vistos, seja no atletismo, natação, nado sincronizado, ginástica artística, dentre outros esportes nos quais o corpo, como um todo, é a força motriz dos competidores. 

Este esforço (sobre-humano às vezes), também permeia as nossas memórias, a partir de momentos épicos das competições, como é o caso por exemplo da chegada da maratona feminina da edição de 1984, em Los Angeles. Muitos de nós, seja por termos vivido à época ou por reportagem, gravamos aquela icônica imagem da suíça Gabriele Andersen adentrando o coliseu, exaurida, extenuada, mas determinada, mesmo cambaleante, a cruzar a linha de chegada, a cumprir o seu objetivo... 


Mas a esta altura o leitor deve estar pensando: o que tem a ver o desempenho de uma atleta, de uma edição olímpica do passado, com o título deste texto? Por qual motivo citá-lo ou vinculá-lo à burrice? Não se trata disso, mas sim às diferentes maneiras pelas quais o ser humano interpreta  determinados fatos, mesmo eles sendo um "ponto fora da curva" e nele aplicam um determinado rótulo. 

No caso, quero falar da volatilidade de opinião de um profissional dentro do ambiente futebolístico. Citemos o que ocorreu na última partida disputada pelo Palmeiras que, mesmo considerando um decréscimo na qualidade de seu futebol, plasticamente falando, sempre desponta como um franco favorito nos campeonatos que participa. E que, desde 2020 conta com Abel Ferreira no comando técnico. 

O verdão (estou atribuindo o nome comum, carinhoso, dado pelos seus torcedores, mas eu não sou torcedor dele!!!) não teve um desempenho muito favorável, jogou um futebol ruim, porém, diferentemente do que vinha ocorrendo anteriormente, não conseguiu ganhar a partida (terminou com o placar de Botafogo 3 x 1 Palmeiras). 

A uma certa altura da contenda, ao substituir um jogador por outro, ouviram-se alguns gritos de "burro, burro", os quais foram ofuscados porque a maior parte dos torcedores não concordaram com tal alcunha...

Este é o paralelo que desejei traçar entre o ocorrido com Gabriele Andersen e Abel Ferreira. Em ambos casos, temos duas personagens que, cada qual à sua maneira, envidaram esforços tendo como objetivo superar limites e alcançar um determinado resultado. E ambos, dentro deste planejamento, foram, com todos os méritos, vencedores em suas respectivas áreas, mesmo deixando evidente algumas vulnerabilidades. No caso de Gabriele, a exaustão física e no caso de Abel, o decréscimo da qualidade do futebol apresentado. 

Ocorre que parece um tanto quanto inverossímil questionar (neste sentido) e afirmar uma suposta "burrice", considerando no caso do técnico alviverde, uma carreira no clube que rendeu 10 títulos de expressão em um intervalo de cerca de 4 anos. Ademais, em qualquer momento um desempenho na maior parte das carreiras pode sofrer um determinado decréscimo, o que muitas vezes demanda uma reestruturação. 


Mas a controvérsia principal a meu ver é a contínua volatilidade pela qual se atribuem adjetivos pejorativos e posteriormente, poucos dias depois extremamente positivos aos atletas e treinadores, tendo como base uma vitória ou uma derrota. O imediatismo em não se saber diferenciar ou até mesmo analisar que a derrota por exemplo, poderia ter sido causada simplesmente por... uma mera superioridade do adversário ou uma jornada infeliz do seu time de coração. As análises dão-se ao sabor do vento, sem um critério meramente justificável, apenas no chamado "calor da emoção". 

Evidentemente que o objetivo-fim em uma competição é a vitória, mas a perspectiva por exemplo, de um vice-campeonato ou de um segundo lugar, é que este competidor foi o "primeiro dos derrotados" e não meramente o segundo lugar... 

Daí fico imaginando: se a visão do parágrafo anterior preponderasse no caso de Gabriele Andersen, considerando que na maratona ela ficou em 37° lugar, qual seria a visão destas pessoas de análise tão "volátil"? 


Fica a reflexão...

Até a próxima postagem, pessoal! Boa leitura. 

Comentários

REalmente, é interessante perceber as pessoas que dispõem do seu tempo pelos mais vulnerárveis. São muitos, apesar de não percebermos. E esse moço do vídeo tem algo muito especial, ele não se vangloria do que faz, ao contrário, ele se limita a se igualar as pessoas vulneráveis, assim como Padre Julio, espiritas, maços, católicos, umbandistas e pessoas sem religião que anonimamente buscam cuidar das pessoas em situação de rua e degradação. Lindo texto e exemplos. Vou compartilhar.

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