Senso de Civilidade + Reversão do Encrudescimento
Olá, pessoal, boa noite.
Por estes dias tive uma boa conversa a respeito de um tema pouco em voga nos dias atuais, que requerem, como nos primórdios da Administração, produtividade a todo custo. Falava de civilidade em pequenos gestos.
A gente costuma dizer que pequenas atitudes podem tornar o dia de qualquer pessoa grandioso. De fato, é necessário ter muito tato, jogo de cintura e altruísmo para não nos deixarmos contaminar pelo encrudescimento disseminado como um vírus em praticamente todas as nossas esferas de convivência.
Senão vejamos: a maior parte da rotina de um trabalhador brasileiro, principalmente tomando em consideração o trajeto casa/trabalho/casa, é uma seqüência "lógico-ilógica" de causalidades desconfortáveis e que já contribuem para minar a sua resistência e a paciência, antes mesmo de iniciar suas atividades profissionais.
Quem vive no extremo das Zonas Sul e Leste principalmente, sente-se um autêntico Ulysses, tamanha a odisséia para poder embarcar em um ônibus ou metrô. Quando isso é possível, dezenas de pessoas "compartilham" (claro que entre aspas, por tratar-se de um eufemismo para "apertam-se"), um espaço que na realidade deveria ter sido ocupado por bem menos indivíduo por metro quadrado.
Ulisses na caverna de Polifemo
Todos tornam-se autênticos "heróis gregos", por terem de vencer esta batalha do deslocamento, cansando-se ao extremo, porém sem o lirismo e o reconhecimento merecidos, apenas sendo lembrados de seus respectivos infortúnios quando a época das eleições vem à tona mais uma vez.
Fazendo um paralelo a respeito desta análise, veio ao meu pensamento alguns conceitos de Administração voltados ao bem-estar do trabalhador, os quais vêm bem a calhar dentro do contexto desta análise, notadamente o de Elton Mayo, que falava da Teoria das Relações Humanas. O trabalhador sente-se gratificado não apenas com o seu salário mensal, que lhe provê (isso em um cenário ideal, muitas vezes alheio à realidade do país) as necessidades fisiológicas básicas, mas também quando faz parte de um grupo respeitado e que cumpre determinadas métricas, dentre elas a pontualidade. Se, por conta destes fatores externos (trânsito, transporte caótico e mal planejado, mal dimensionado), ele destoa disso, acaba por perder o seu senso de função social e responsabilidade. Isso, numa coletividade, contamina a sociedade, tornando-a um organismo social doente.
Elton Mayo
Esta rotina avassaladora, de uma maneira mais prática, acaba revertendo-se em uma autêntica proliferação de encrudescimento comportamental. A idéia do "um por todos e todos por um", cai por terra, pois aqui cada um deve sobreviver por si só.
Filosofando sobre pequenos gestos que conseguimos observar no dia-a-dia, como a falta de "por favor", "obrigado", no vocabulário, além de outros gestos pautados pelo embrutescimento, é que acabei por desenvolver esta análise, na qual, faço também "mea-culpa" e me incluo em determinados momentos, apesar de não ser o meu "modus operandi".
Mas existe esperança e ela pode ser exemplificada, por exemplo, no mundo da Sétima Arte, em um filme bastante emblemático chamado "Escritores da Liberdade". Sucintamente, trata-se de um tema já abordado em outras obras como o excelente "Um Diretor Contra Todos", do diretor/mestre que tenta, por meios mais ou menos ortodoxos (ou heterodoxos), reverter o "status quo" de violência e conflitos dentro do ambiente escolar.
A história é envolvente e tem como positivo o ponto de casar duas realidades diferentes em cenários e época, mas muito similares em contexto: os conflitos inter-raciais e a II Guerra Mundial. Por um meio condutor que é a professora Erin Gruwell (Hillary Swank), a sensibilidade, outrora totalmente esquecida, aflora, a ponto de modificar realidades, não apenas no plano coletivo, mas também no individual.
Escritores da Liberdade ("Freedom Writers") - 2007
Como um ponto de reflexão quanto à necessidade de mudarmos paradigmas e desenvolvermos nosso senso de civilidade e também sensibilidade, fecho esta postagem com a música-tema do filme, chamada "I Have a Dream", do happer Will.I.Am. Todas as pessoas têm condição de procurar um caminho melhor, como diz a letra: e eu compartilho desta máxima, tentando, diariamente, minimizar os defeitos, tendo claro a consciência de que não os eliminarei por completo, pois sou... humano.
Até a próxima postagem, pessoal!
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