"Polarização" Inusitada e Desorganização "Organizada" - Tempos de Pandemia...
Em muitos finais de ano, me recordo como se fosse hoje, a reunião dos primos para as brincadeiras não-eletrônicas ditava a tônica das festividades de Natal e Ano Novo. O máximo de "eletrônico" que realmente nós tínhamos, àquela época (longínquos anos 1980), era o rudimentar tele-jogo. Mas era o supra-sumo para a criançada por ser uma grande novidade em relação ao cotidiano da turma acostumada com jogo de queimada na rua, taco, pião, pega-pega e esconde-esconde...
Pois é... um dos ditos anciãos dos jogos eletrônicos no Brasil fez parte da minha infância e eu o incluí neste preâmbulo para identificar os tempos em que as viagens a Sorocaba eram constantes, justamente como um emblema da união que imperava naquela época, da cumplicidade e da simplicidade, sem polarizações recorrentes que permeiam os quatro cantos deste país.
Bons tempos aqueles no Jardim Arco Íris...
Também citei a "Manchester Brasileira" (sim, este é o apelido de Sorocaba), por ser protagonista de um evento inusitado, que diria também um tanto quanto triste e estampa de uma faceta real do quanto a desagregação e a desorganização norteiam os desígnios do Brasil.
Lá encontra-se instalado o Shopping Esplanada, o qual, por conta da região onde está construído, possui parte de sua área dentro de Sorocaba e parte dentro do município de Votorantim. Como as duas cidades têm classificações diferentes para fins de flexibilização da abertura do comércio no Estado de São Paulo, as lojas "não essenciais" da parte de Sorocaba não podem abrir, ao passo que as do lado de Votorantim têm tal permissão.
Coincidentemente, meu post passado falava justamente em divisão de território, porém na ocasião, espelhando a desigualdade social entre duas porções de território contíguas. Mas este feito "inusitado" se assim podemos classificá-lo, espelha bem a falta de direcionamento não apenas das autoridades, mas também dos cidadãos em pensar que seus hábitos repensados, seu modo de perceber seu semelhante e sua voz ativa para monitorar, cobrar e se informar a respeito da atuação de quem os representa, está muito aquém do que deveria ser, especialmente nestes meses de 2020, onde precisaríamos cada vez mais de união e foco na mitigação do contágio pelo vírus.
Todos compreendemos também o senso de urgência e a angústia quanto à retomada da vida normal, porém, ao invés disto ser pensado de maneira ponderada e escalonada, acaba criando um efeito extremamente assustador no sentido de perspectiva do aumento da chamada curva de infecção e não menos no sentido de termos sérias dúvidas se poderemos vir a ser de fato uma sociedade realmente organizada.
Aparte o aspecto comportamental, a desigualdade social e o sentimento de "tirar do almoço para ter o jantar", potencializa justamente o contrário daquilo que deveríamos esperar para encamparmos uma luta e uma consciência realmente consolidada de mudança de paradigmas de higiene, paciência e respeitabilidade na sociedade brasileira.
É mais do que hora de repensarmos tudo isso e não apenas atribuirmos às autoridades o papel resolutivo. Mesmo porque delas há sérias ressalvas da real vontade de que isso seja feito...
Até a próxima postagem, pessoal!
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